O que dizer sobre essa onda de IPOs?
- S7 Investimentos
- 24 de out. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2021
Trago a vocês essa excelente matéria do site "Eu quero investir", que fala um pouco mais sobre os IPOs em 2020, e vamos ver o que o mercado está vendo diante dessa onda. Será que estamos preparados, será que temos recursos disponíveis o suficiente diante da recessão do corona vírus que estamos passando?

A fila de empresas que pediram autorização para negociar ações na bolsa de valores não para de aumentar. Só em setembro, que mal começou, seis novas companhias enviaram suas documentações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitando autorização para fazer uma Oferta Inicial de Ações (IPO) e estrear na B3. Em agosto, foram 23 novos pedidos.
Se continuar nesse ritmo, 2020 tem tudo para se aproximar do histórico ano de 2007, quando a bolsa brasileira registrou o recorde de 64 IPOs.
De janeiro até o dia 2 de setembro, 12 empresas fizeram suas ofertas iniciais, movimentando R$ 11,9 bilhões. Outras 40 aguardam autorização da CVM para negociar ações na bolsa. No mercado, no entanto, já se fala em 60 ofertas até o fim do ano, segundo reportagem do Valor Econômico. Veja a lista das empresas que já fizeram IPO em 2020 e quanto elas captaram:
Estapar (empresa de estacionamentos): R$ 345,3 milhões
Aura Minerals (fabricante de ouro): R$ 790 milhões
Ambipar (empresa de gestão ambiental ): R$ 1,08 bilhão
Grupo Soma (varejista de moda): R$ 1,82 bilhão
d1000 (rede de farmácias): R$ 400,2 milhões
Pague Menos (rede de farmácias): R$ 858,9 milhões
Quero-Quero (varejista de material de construção): R$ 1,94 bilhão
Priner (serviços de engenharia industrial): R$ 200 milhões
Mitre Realty (incorporadora): R$ 1,02 bilhão
Moura Dubeux (incorporadora): R$ 1,25 bilhão
Lavvi (incorporadora): R$ 1,16 bilhão
Locaweb (empresa de hospedagem de sites): R$ 1 bilhão
Entre as empresas que registraram seu pedido na CVM no início de setembro, estão a plataforma de aluguel de imóveis Housi, o site de consumo colaborativo Enjoei e o clube de assinatura de vinhos Wine. O que explica o boom de IPOs?
Em 2019, o mercado financeiro já se referia a 2020 como o “ano dos IPOs”. E não era para menos. Havia uma expectativa de que, neste ano, a economia brasileira teria um crescimento mais robusto, depois da ressaca gerada pela recessão que começou em 2014.
Esse otimismo se refletiu diretamente na bolsa. No dia 23 de janeiro, o Ibovespa atingiu o recorde de 119 mil pontos. No mês seguinte, foram realizados os quatro primeiros IPOs do ano. Para se ter uma ideia do que isso representa, basta dizer que em todo o ano de 2019 apenas cinco empresas abriram o capital na bolsa brasileira.
Em março, no entanto, a pandemia derrubou os mercados do mundo inteiro, gerando pânico e incerteza, e interrompeu temporariamente os planos das companhias. Algumas delas suspenderam o processo de IPO até que a turbulência se desfizesse.
O clima de total insegurança acabou dando lugar a uma maior previsibilidade, com a abertura de economias ao redor do mundo e com os resultados da atividade econômica vindo melhores do que o esperado inicialmente.
Embora ainda esteja em campo negativo, acumulando perdas de 12% atualmente, o Ibovespa já ronda os 100 mil pontos.
Juros baixos e pessoa física na bolsa
Dois fatores têm sido preponderantes nessa recuperação do mercado de capitais. E eles estão diretamente relacionados. O primeiro deles é a taxa de juros, que alcançou o patamar mais baixo da história: a Selic chegou ao nível de 2% ao ano. Esse cenário obriga o investidor a se arriscar mais, para obter mais rentabilidade. Isso está fazendo o brasileiro migrar para a bolsa.
Para se ter uma ideia, o número de investidores na B3 passou de 619,6 mil em 2017 para 2,65 milhões até junho de 2020.
Além disso, é preciso considerar que as ofertas primárias são uma fonte de captação muito mais baratas para as empresas quando comparadas a outras linhas de financiamento.
Taxas de juros
Outro forte motivo para o momento ser diferente são as baixas taxas de juros no mundo inteiro, também por conta da pandemia. Logo, não há mais tanta oportunidade em juros altos, e isso acaba levando o investidor a procurar oportunidades na renda variável.
Elias cita o exemplo do Japão:
“O País tem juro negativo há mais ou menos 10 anos. Isso porque eles têm uma poupança interna muito forte, e precisam acelerar a economia. Desse modo, a preocupação é colocar o dinheiro na mão da população. O objetivo é fazê-la gastar em vez de guardar dinheiro em bancos. Por isso, o juro é negativo.
No Japão, há tempos a forma de fazer o dinheiro trabalhar é investir em empresas. Logo, o que ocorre há 10 anos naquele País é o que está acontecendo no mundo inteiro hoje.
Por um lado, há investidores sedentos por novas oportunidades de ganhos. Em contrapartida, as empresas identificam o momento como uma boa oportunidade para se capitalizarem com IPOs na B3.
E como o mercado enxerga essa quantidade de IPOs?
Segundo Elias, o mercado entende que, tomados os devidos cuidados, é plenamente normal, esperado e saudável esta nova onda de IPOs. Inclusive entende como um momento especial para os investidores pessoas físicas começarem a entrar na bolsa.
O problema é que existem algumas precificações acima do devido. Para Elias, isso advém um pouco da falta de parâmetro que as pessoas ainda têm com o mercado acionário.
“Numa economia consolidada, é muito difícil uma ação ter esse descolamento da realidade em termos de valores. O motivo é que, lá fora, existe mais concorrência e as pessoas têm mais referências.”
Há fôlego para tantas ofertas?
Entre analistas e economistas, a avaliação é de que esse aumento expressivo de IPOs no País não é indicativo de uma bolha. Eles consideram um processo natural e até saudável para o mercado.
Ainda assim, a recomendação para o investidor é que se tenha cautela. Nem toda empresa que faz uma abertura de capital é sólida financeiramente ou tem uma boa perspectiva de crescimento. Muita gente já perdeu dinheiro com histórias que pareciam promissoras e não se confirmaram. Está aí o exemplo do Grupo X, do empresário Eike Batista.
Por trás da aparente euforia dessa nova onda de IPOs, os investidores já começam a demonstrar uma maior seletividade na escolha dos ativos. O sinal mais evidente apareceu nas últimas precificações.
Veja o que aconteceu com a rede farmácias Pague Menos. A faixa indicativa de preço ia de R$ 10,22 a R$ 12,54, mas acabou saindo por R$ 8,50. Aconteceu o mesmo com a incorporadora Lavvi. As ações foram precificadas a R$ 9,50, abaixo da faixa indicativa de R$ 11 a R$ 14,5. A Havan, que entrou na fila com a expectativa de levantar R$ 10 bilhões, deve captar menos do que isso, já afirmaram alguns gestores.
Ao decidir por entrar ou não em um IPO, os investidores devem observar a documentação apresentada pela empresa à CVM e analisar o que será feito com o dinheiro obtido com a oferta de ações. Se os recursos serão usados para expansão, é um bom sinal. Se forem para o bolso do acionista (oferta secundária) ou para pagar dívida, pense duas vezes antes de entrar.
IPOs: 2020 versus 2007
A corretora Planner fez recentemente um estudo relembrando o boom de IPOs do mercado brasileiro em 2007 com o movimento que se desenrolou em 2020.
Treze anos atrás, a conjuntura econômica era bem diferente. O mercado vinha de um longo período de poucos lançamentos na bolsa. O PIB cresceu 6,1% naquele ano e o capital estrangeiro mostrava bastante apetite pelas ações brasileiras. Naquele momento havia uma crise de crédito nos mercados europeu e norte-americano, que explodiria no ano seguinte. com a crise financeira global.
“O ambiente favorável atraiu muitas empresas para o mercado de capitais, ainda que parte delas não estivesse bem preparada para uma mudança profunda de comportamento e novos desafios”, diz o relatório da Planner. “O maior exemplo foi observado no setor imobiliário que chegou a ter mais de 20 companhias listadas. Em poucos anos o otimismo exagerado não se confirmou e a maioria das incorporadoras e construtoras amargou grandes prejuízos.”
Agora, o movimento não conta com a participação do investidor estrangeiro. Neste ano, eles ficaram com 32,4% do total de R$ 50,4 bilhões em ofertas realizadas na B3, entre IPOs e follow-ons. Em 2007, esse porcentual superava os 70%.
Fonte: Eu Quero Investir
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